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Luneta pintada por Veloso Salgado na Sala das Sessões
Largo da Má Língua - Assim vai o Burgo! A Figueira da Foz e Arredores...

sexta-feira, abril 29, 2005

Até Sempre, Nuno

Nuno, 15-02-2003Nuno e Paulo, 03-04-2004


Faz, hoje, um ano que o Nuno morreu. É impossível esquecer aqueles momentos que marcaram, para sempre, a minha vida.

O Nuno tinha apenas treze anos de idade. Detentor de um sorriso tímido, mas lindo e puro, de um olhos grandes, e inocentes, de uma alma doce e imensa.

Sempre fui um irmão ausente, muito por culpa da minha profissão. De manhã à noite, o dia é passado em correrias, noticiários, conferências de imprensa, telefonemas, gravações...

Mas o Nuno estava sempre ali para me apoiar. Compreendia-me.
Em frente ao computador jogávamos "FIFA". Fazíamos planos.
Prometemos ser os melhores amigos do mundo. E, até ao final, cumprimos.

Naqueles dois últimos meses, eu, tinha abdicado de tudo, por ti. Senti-me na responsabilidade de acompanhar o pai e a Lena. De os apoiar os mais que pudesse. Chamei a mim a responsabilidade de estar presente na tua partida. Sentia que, esse momento, estava perto. Quis "livrar" o pai e a Lena dessa hora horrível e inexplicável.

Passou um ano desde que partiste. Em 13 anos da tua vida foram muitas as vezes que te vi chorar, mas nunca como há um ano atrás. Estavas perdido de dores. As três injecções de Morfina que te administraram não sortiram efeito. A dor, teimosamente, estava lá...

Horas antes da tua partida, Portugal defrontou a Suécia, em Coimbra. E como esse jogo me trouxe à ideia a tua felicidade quando, um dia, te levei ao Estádio da Luz. O Benfica era a tua, e a nossa, paixão.

Mas, naquele dia fatídico, há um ano atrás, estávamos tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe, naquele jogo da vida. Lembro-me que não quiseste ver o futebol na televisão. "O Scolari não deixou aqui (ao hospital) vir os jogadores. Não gosto dele", disseste-me, para justificar as dores que tentavas esconder.

Nunca falámos abertamente do momento pelo qual estavas prestes a passar.
Contudo, sabias o que estava "em jogo": a tua vida. Os teus olhos castanhos revelavam a revolta de quem, sem nada fazer, tinha uma "dura" conta para pagar, não com dinheiro, com a vida.

Filho da puta de cancro. Puta de leucemia que te arrancou à vida. Foda-se... que revolta tão grande... que dor imensa invade a minha alma.

Desviavas o olhar sempre que te perguntava como estavas. Tentavas falar noutra coisa, ou simplesmente manter o silêncio. Não insistia, percebia o porquê.

Lembro-me tão bem. Foi de quarta-feira (28) para quinta (29). O pai e a Lena foram fumar um cigarrito. Descomprimir. "Apanhar" ar... Chorar baba e ranho sem que fossem vistos por ninguém. Sem que fossem vistos por ti. Mas tu sabias. Sentias o que lhes ia no coração. Por várias vezes mo disseste.

Eram cerca de 23h, de quarta-feira, dia 28. Horas antes o meu coração apertou-me de tal forma que me falou numa dor imensa. Uma dor que eu iria sentir. Resolvi, nessa noite, ficar no hospital. Contigo, com o pai e com a Lena. Pressentia-o. O fim triste e doloroso estava a chegar.

Encostado a ti, na cama do quarto 9, segurava a botija de água quente que, de encontro às tuas costas, te aliviava as dores. Essas putas que teimavam em azucrinar-te o corpo. Pouco mais havia a fazer. Aconteceu. "Tirem-nos (pai e Lena) daqui", pedi, em pânico, às enfermeiras.

Tinha a perfeita noção do que estava acontecer. Sentia as minhas pernas a tremer. Abracei o Nuno. O fim estava a chegar. O seu fraco sangue "corria" rumo aos pulmões.

No último momento de lucidez, olhou-me e deixou cair uma lágrima que me tocou no rosto. Essa imagem, meu deus... Que frustração, que revolta... Que vontade sei lá de quê, quando, hoje, a meio da noite, acordo "lavado" em suor... É apenas mais um pesadelo. Um entre centenas...

No quarto ao lado, a mãe de uma criança observava-nos incrédula. Olhava resignada para mim e abraçava a filha. Deixei de a ver... O lençol branco tapou o vidro que nos separava.

Percebi então que nada mais havia a fazer senão ajudar-te na partida.

Lembro-me bem das primeiras palavras que, depois, disse ao pai e à Lena: "Foi em paz, sem dor e com muito amor". Quis tranquiliza-los. Como se isso fosse possível...

Naquele momento parecera que eu morrera também. Não chorei. Apenas, uma incontrolável dor me destruía por dentro. O Nuno já não iria para casa para, nesse fim-de-semana, celebrar o meu aniversário e assistirmos ao Benfica-Sporting. Era Quinta-feira, dia 29. 00h15 minutos.

Para ti, meu irmão Nuno,
gosto e vou gostar sempre muito de ti.
Paulo Dâmaso

43 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Deixo-te as lágrimas que me arrancaste com este texto e, um abraço fraterno com muito carinho.

Jinho

29 abril, 2005 02:03  
Anonymous Anónimo said...

Estou sem palavras. Quero desejar-te apenas muita coragem com um abraço enorme.

29 abril, 2005 08:13  
Anonymous Anónimo said...

Um forte abraço de amizade

29 abril, 2005 08:28  
Blogger Luis Vidal said...

Face a uma situação tão delicada, apenas deixo um abraço.

29 abril, 2005 10:03  
Anonymous Anónimo said...

Sem palavras.
Costumo recordar uma frase antiga que ouvi de um professor: "a vida são umas pequenas férias que a morte nos concede".
Coragem.
Um grande abraço
Orlando Cardoso

29 abril, 2005 10:08  
Anonymous Anónimo said...

" ... Tudo em nós é mortal, menos os bens do espírito ..."
Virgílio Ferreira
Força e muita coragem

29 abril, 2005 10:12  
Anonymous Anónimo said...

É preciso muita coragem, pois a vida consegue ser por vezes muito madrasta....

29 abril, 2005 10:45  
Anonymous Anónimo said...

Desconhecia a sua "história", Paulo, e senti um "arrepio" tremendo, julgo que senti ou consegui imaginar a "angustia" e a "revolta" que sentiu quando o escreveu. Tudo o que poderei dizer, em nada altera o que viveu e o que está a sentir, posso apenas dizer, com convicção que - nada acontece por acaso - e que embora muito dolorosa, a situação que viveu servirá apenas para a sua evolução interior positiva. Nunca, viva o que sente com revolta ou angustia, pois aumentará o sofrimento. Extraia o que de "positivo" a situação lhe possa ter transmitido. È dificil - eu sei - mas algo de positivo eu senti e o Paulo tb deverá sentir - ACABOU O SOFRIMENTO do seu irmão.

Deixo-lhe a seguinte frase, sobre a qual reflicto sempre que algo me faz despultar sentimentos como "raiva", "rancor " , "angustia", "injustiça " etc...

" A vida é apenas uma longa caminhada para a morte " - viva-a em paz consigo e com os outros, não vale a pena de outro modo, o fim é igual para todos. Apenas para uns mais cedo, do que para outros.
Estou certa, que se reflectir e aceitar a vivência dolorosa que teve de passar, fará de si um homem muito melhor.È preciso que aceite o que viveu.

Abraço sincero.

29 abril, 2005 10:48  
Anonymous Anónimo said...

Por muito que digamos que as palvras não trazem de volta quem tanto nos faz falta, depois de ler o seu texto não consegui ficar indiferente à sua dor e, por isso, aqui deixo as minhas....
Apenas gostaría de lhe dizer que, por muita revolta que sinta pela perda do seu irmão, pense que, esteja ele onde estiver, zelará sempre por si e por todos aqueles que nunca o esquecerão.
Se possível tente, como alguém já lhe sugeriu num dos comentários, aceitar esta "partida" que a vida vos pregou, mas com o coração e a alma mais leve - é essa a mensagem transmitida no sorriso patente nas fotografias do seu irmão.

Força!

29 abril, 2005 12:10  
Anonymous Anónimo said...

Coragem...

29 abril, 2005 12:44  
Anonymous Anónimo said...

A realidade é muito mais dura quando a sentimos assim, por perto, muito por perto.

Mostraram-me o seu texto do Blog e quero deixar-lhe a minha solidariedade e a minha disponibilidade para, consigo, ou com outros que o queiram, no nosso concelho, encontrarmos um meio de apoiar e ajudar quem, hoje, está a viver o mesmo que você e a sua família viveram no ano passado.

Penso poder ser um bom tributo ao Nuno e um apoio necessário a quem precisa.

Sem eu ter ideia da dimensão do que se sofre com a perda de alguém assim, um abraço sincero.

Lídio Lopes

(mensagem recebida por e-mail)

29 abril, 2005 12:53  
Anonymous Anónimo said...

Paulo, quero deixar uma mensagem de conforto para ti e para a tua família. Força e tens que seguir em frente. Um abraço, Zé Tó

29 abril, 2005 12:55  
Blogger Gotinha said...

Apenas te deixo um sorriso..
:-)

29 abril, 2005 13:05  
Anonymous Anónimo said...

Um abraço e coragem.

Jose Palma

29 abril, 2005 13:22  
Anonymous Anónimo said...

Um abraço de muita fé e coragem para que continues, sem medo, a demonstrar os teus sentimentos.

29 abril, 2005 14:39  
Anonymous Anónimo said...

É nestas alturas e com estas situações que pensamos o que é que realmente vale a pena fazer, se por um lado contruir estádios ou construir hospitais condignos para as crianças e para o resto da população. Um forte abraço de amizade. L.P.

29 abril, 2005 14:49  
Anonymous Anónimo said...

Estou sem palavras...

29 abril, 2005 14:54  
Anonymous Anónimo said...

Qualquer coisa que eu diga, penso, não aliviará a sua dor. Muita força e se precisar de alguma coisa sabe que poderá sempre contar comigo.

29 abril, 2005 15:15  
Anonymous Anónimo said...

Não sei o que lhe dizer... Um abraço apenas.

29 abril, 2005 15:29  
Anonymous Anónimo said...

sabia da históruia do Nuno, porque tivemos antes ocasião de falar dela. não a conhecia ao pormenor como tu a relatas aqui no teu blog.
costuma dizer-se que um homem não chora.É mentira! Ao chegar ao fim da leitura naõ consegui parar uma lágrima que me percorria a face. Paulo, um GRANDE abraço para ti e para a tua familia neste dia, do teu (sempre) amigo.
E coragem, muita coragem...

29 abril, 2005 15:39  
Blogger Maria Papoila said...

:( um beijinho

29 abril, 2005 16:30  
Anonymous Anónimo said...

Nunca senti a dor de perder alguém que me fosse muito próximo, mas não pude deixar de largar uma lágrima pelo Grande Nuno, tal como se tivesse sido com alguém meu amigo.

Um abraço solidário e sentido,
força Paulo! para cima!

Tiago Pita

29 abril, 2005 16:58  
Anonymous Anónimo said...

Um beijo solidário da «entrelinhas»

29 abril, 2005 17:49  
Anonymous Anónimo said...

Não há palavras!Nem são precisas!

29 abril, 2005 18:35  
Blogger cris said...

Há coisas q não compreendemos. E aceitar tb não deve ser fácil. És bravo, meu caro amigo. Percebo esse desespero por poupares, no q pudeste, o teu pai. E hoje chora o q tiveres a chorar.
Um abraço, apertado.

29 abril, 2005 20:01  
Anonymous Anónimo said...

Na 2ª Feira, disse-lhe que há muito não visitava o seu blog. Hoje vinha à procura da tal referência ao aeroplano e dou com este voo dramático mas, ao mesmo tempo, sublime. Você é uma pessoa especial e eu espero que, com os seus, tenha a felicidade merecida, pois é o que o Nuno deseja.
Abraço

29 abril, 2005 20:07  
Anonymous Anónimo said...

Força e coragem

29 abril, 2005 20:22  
Anonymous Anónimo said...

beijo

29 abril, 2005 20:34  
Blogger ricardo said...

aquele forte abraço.

29 abril, 2005 21:10  
Anonymous Anónimo said...

Pato reles,

Comoveste-me!!!

Um abraço.

29 abril, 2005 23:07  
Blogger nikonman said...

Uma lágrima nada pode significar na imensa dor que em ti senti.
Mas deixei-a cair.
Um abraço.

29 abril, 2005 23:13  
Anonymous Anónimo said...

Paulo, um abraço grande, para si e família. Fiquei comovido. O Nuno descansa em paz agora e você, com este texto, prestou-lhe uma grande homenagem. Até sempre.

30 abril, 2005 21:32  
Anonymous Anónimo said...

Não te conheço pessoalmente mas conheço-te como figueirense e gostaria de te dizer que esta triste história me chocou é de facto revoltante qunado se perde um jovem destes é mesmo revoltante!
É nestes momentos que pensamos que esta terríveis doenças só acontecem aos outros, mas não quanto menos esperamos elas podem-nos bater à porta, enfim é a vida!
Gostaria de te dar um forte abraço e que o teu irmão descanse em paz pois ele de certeza esta lá em cima a olhar por ti e pelos teus!
um grande abraço

João Carlos

30 abril, 2005 22:19  
Anonymous Anónimo said...

As palavras nunca são suficientes para expressar o que sentimos nestas situações. Um abraço do teu amigo Norberto.

01 maio, 2005 12:24  
Blogger TT said...

As lágrimas em catadupa impediram-me de comentar quando li o post.
Após ter chorado as minhas também, consigo agora mandar-te um beijo de solidariedade e relembrar-te que não estás sozinho, afinal tens um anjo no céu a tomar conta de ti.
Um chuac-quac especial ***

02 maio, 2005 11:46  
Anonymous Anónimo said...

AMIGO Paulo!
Estive estes dias a pensar se haveria necessidade em deixar uma palavra amiga, depois destes últimos dias a refletir um pouco sobre o que andamos a fazer nesta forma de vida, resolvi apenas e só deixar o meu silêncio...
AMIGO, um grande abraço!

02 maio, 2005 14:11  
Blogger Paulo Dâmaso said...

A todos os que aqui, comigo, compartilharam da minha dor deixo o meu muito obrigado.

As vossas palavras foram, e são, reconfortantes, apesar da marca, profunda, que em mim passou a existir a partir do dia 29 de Abril de 2004.

Um palavra de agradecimento a todos que, ou por telemovel ou em conversa, me deixaram uma palavra amiga, neste momento dificil.

Os meus mais sinceros agradecimentos. Espero sobretudo ter feito com que todos vocês tivessem parado para pensar que, nesta vida, não somos nada.
Por isso para quê chatices? Inimizades?

Nada vale a pena. Vivam a vida que ela é curta. Por vezes, curta demais.

02 maio, 2005 14:42  
Anonymous Anónimo said...

Peço ao tempo que, embora não anulando a tua dor, p'lo menos a minore. Peço-te a ti que sigas em frente. Com discernidade, a mesma com que escreveste este texto. Um abraço fraterno e emocionado de alguém que está sempre a teu lado.
Junior

02 maio, 2005 14:45  
Anonymous Anónimo said...

Paulo, o teu irmão está nas mãos de Deus, daqui um abraço de coragem.
Pedro Ledo
Porto Seguro - Brasil

02 maio, 2005 17:02  
Anonymous Anónimo said...

"A dor de perdermos alguém que amamos muito é terrível. Compreendo-o perfeitamente, porque no dia 26 a minha filha Francisca fez 1 ano e, nesse mesmo dia, fez quatro anos que o meu pai morreu.

Senti uma angustia terrível, entre a vida e a alegria da minha filha e o anivedrsário da morte do meu pai. Tal como tu, também dos meus olhos rolaram muitas lágrimas de saudade, mas eu acredito que esteja onde estiver [o meu pai] está a olhar por mim, tal como o seu irmão está a olhar por si.

Coragem e um beijinho com muita amizade.

Anabela Gaspar
(vereadora CMFF)

Mensagem recebida via SMS.

03 maio, 2005 13:15  
Anonymous Anónimo said...

JÁ NOS CRUZÁMOS EM DEZENAS DE REPORTAGENS, MAS, NUNCA CONVERSÁMOS SOBRE ESTA DOR
QUE ARDE E SE VÊ!
UM ABRAÇO PARA TI COLEGA AMIGO.

03 maio, 2005 14:47  
Anonymous Anónimo said...

simples/ um bj enorme p ti neste dia tão especial pl piores razões
possiveis! n consegui conter as lágrimas a ler o texto q escreveste sobre o
teu irmão no blog! desc n saber o q dizer!m nada do q possa dizer será
suficiente!
Armanda
(por e-mail)

04 maio, 2005 16:45  
Anonymous Anónimo said...

O seu desabafo deixou-me sem palavras. Já o conhecia de vista e das suas funções profissionais. Desconhecia o se drama familiar! Posso calcular a sua dôr e a marca que
tão triste "acontecimento deixou na sua vida!
Mas deve reagir em nome do seu irmão! Onde quer que ele esteja vela por si e quer vê-lo sorrir de novo... porque ele de certeza está bem porque era uma "alma pura"
que se elevou pelo sofrimento e pela pureza dos seus poucos aninhos. beijinhos.

06 maio, 2005 23:54  

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